Back to Normal, seja lá isso o que for!

Depois de mais de 50 dias, devagarinho, vamos voltando ao normal!
É certo que andamos com máscaras, álcool gel na mala, distância social salvaguardada, mas vamos voltando!...
Já há treinos de futebol, já há praia e hoje até fomos comprar sapatos, para mim e para a pequena!

Assim, de repente, já olhamos para trás e parece mentira tudo o que aconteceu!...

Os dias agora estão bonitos, quentes, convidativos a passear e a desfrutar, mas até "ontem" ninguém podia sair de casa; a nossa sala foi catequese, escola, atl e igreja; fizemos o nosso Ramo do Domingo de Ramos, sem procissão nem benção; organizámos um almoço de Páscoa, em que apenas nós 4 estávamos à mesa, mas houve um lugar especial para o computador e o nosso almoço de Páscoa na verdade foi uma comunhão de 14 pessoas, divididas em 5 mesas, com ementas semelhantes e brindes entre nós; celebrámos o Dia do Pai e o Dia da Mãe com videochamadas; no 25 de Abril cantámos "Grândola Vila Morena" à janela e no dia 1 de Maio o nosso piquenique foi na varanda da sala; no dia 12 de Maio, em vez de estarmos em Fátima como habitualmente, ficámos na nossa varanda à espera que a Nª. Srª do Rosário de Fátima nos viesse visitar a nossa casa (e Ela veio!!!); mudámos a decoração da sala, aprendemos a fazer comidas novas e descobrimos talentos que desconhecíamos.

Pusemos as nossas vidas em stand by, num limbo suspenso em incógnitas, sentindo que não controlamos praticamente nada do que nos rodeia!
... no entanto, apesar de parecer que todo o Mundo estava parado, a Vida na realidade nunca parou!
Continuaram a nascer bebés e a morrer pessoas; os miúdos cresceram!
Aliás... os miúdos cresceram mais do que qualquer um de nós estava preparado  para ver!
Não foi só fisicamente (desejando que as lojas abram, que estas crianças não têm nada para vestir nem para calçar do verão passado... nada serve!), essencialmente eles cresceram como pessoas!
Estão mais maduros! Claro que continuam crianças, mas... de repente percebo que têm uma consciência fora do comum sobre "vírus", "desinfecção", "distanciamento social", "etiqueta respiratória"... e também sobre contas para pagar ao fim do mês, preocupação com o estado de saúde geral, com a forma como cada um poderá voltar à escola e ao convívio com os amigos. De repente, eles também se preocupam com o "dia das limpezas", com a necessidade de não se deitar comida fora, com poupanças para podermos fazer férias em família...
Cada vez mais unidos, esta quarentena forçada obrigou-os a aceitarem-se como irmãos, companheiros de vida e de brincadeiras, cúmplices nos trabalhos e nas malandrices, com segredos próprios, coordenados nas conversas que são só deles!

E apesar de tão crescidos, todos os dias vejo e relembro que são, ainda, apenas Crianças!
Estão chatos! Implicativos! Com medos e receios que nem eles próprios entendem. Querem atenção extra em (quase) todos os momentos! E, de preferência, que essa atenção extra seja individual! Batem-se! Num instante estão a montar legos juntos e no instante seguinte estão as destruir as respectivas construções, com muita gritaria e lágrimas, e queixas recíprocas!

Que papel exigente este, que estamos a pedir às nossas crianças! Que cresçam, que entendam tudo, que sejam responsáveis e bem comportados, mesmo quando não entendem nada do que se passa lá fora e na televisão continua a haver contagem de mortos e de recuperados, como se esses números apenas pudessem definir como vamos enfrentar o dia seguinte! Nós e eles!

Este fim de semana, quando chegámos à praia, o Santiago entrou no mar a correr, mergulhou e saiu a gritar a plenos pulmões: "MÃE! SINTO-ME VIVO! EU SINTO-ME VIVO MÃE!" repetiu isto várias vezes, mais baixo, como se estivesse a falar apenas para ele mesmo! Engoli as lágrimas, tapadas pelos óculos de sol, e abracei-o!
"-Sim filho! Graças a Deus! Estamos realmente VIVOS!"




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