Super Mom... (not) Super Nanny


... a propósito do programa que vi ontem à noite, em estreia na SIC: SuperNanny

Depois do Big Brother, da Casa dos Segredos, da Quinta, e sei lá mais todos os reallity shows da TVI, eis que (de uma maneira incrível!) chegamos ao ponto mais baixo da televisão: a exposição e humilhação gratuita de uma criança de 7 anos e respectivas mãe e avó!

Em aproximadamente 1h, entrou na nossa casa uma "tirana" de 7 anos, a sua mãe declaradamente incapaz e a avó permissiva!
É possível estereotipar ainda mais esta família?

Em 3 dias (foi a percepção que tive) aquela família disfuncional (palavras ditas no programa) acolheu a supremacia das regras e da boa educação!

Uma pessoa que acha aceitável:
  • criar um "canto do castigo" a meio da escadas, para obrigar a criança a reflectir (?!) no seu comportamento; 
  • implementar regras de comportamento e de vivência, sem sequer se dar ao trabalho de explicar à criança o que está errado na sua forma de fazer as coisas (atenção: eu não digo que a menina esteja certa, mas imagino a confusão naquela cabeça quando se passa de "preto para branco" sem que ela entenda essa passagem);
  • criar um sistema permanente de recompensas para comportamentos que devem ser naturais e que em 7 anos aquela menina (aparentemente) não assimilou; a meu ver ela está apenas a aprender que TODAS as suas (boas) acções, mesmo aquelas que são evidentemente para o seu bem, a sua higiene, etc, devem ser alvo de uma recompensa, de um prémio; sem prémio, não há bom comportamento... mesmo que isso implique deixar de escovar os dentes...
  • obrigar a criança a pedir desculpa e dar beijinho sem ter noção da razão do pedido, é o mesmo que lhe ensinar uma palavra nova em mandarim! Ela aprende a dizer, mas não tem ideia do real significado, logo a palavra "desculpa-me" passa a ser apenas mais uma palavra no seu vocabulário, oca de sentimento e significado;
  • quebrar rotinas de 7 anos de forma abrupta (a hora de dormir, a forma como adormece, a ajuda da mãe a vestir...)...
E podia continuar, mas julgo que não vale a pena!

Que grau de "desespero" leva uma Mãe a expôr a sua filha daquela forma, a envergonhá-la e a rotulá-la como "", "tirana", e outros adjectivos que me recuso a repetir?!
Que grau de "desespero" leva uma Mãe e uma Avó a declararem-se incapazes de criar uma menina, com amor e respeito?!

Não... eu não sou perfeita, estou aliás muito longe disso, até porque na minha casa também há "castigos", "consequências", etc, etc, etc; mas pelo menos, quando eles pedem "desculpa" e dão um beijinho, é com significado, sabem porque o estão a fazer, sabem qual foi o comportamento que levou a isso.

No fim de tudo, o que eu assisti ontem foi a um "tirar o tapete" a uma menina, que nunca conheceu regras nem limites e teve que as "conhecer" mecanicamente, em 3 dias, sob pena de continuar a ser rotulada... 
A Mãe, a quem ela pedia colo e a quem se aninhava para adormecer, foi a mesma que a "abandonou" para as câmaras, que lhe disse: ou és uma menina boazinha ou eu não te aguento mais!

Problemas de comportamento há em TODOS os lares, talvez uns piores que outros, mas há em TODOS!
Toda a ajuda, profissional ou não, deve ser bem vinda, mas por favor: não humilhem desta forma as nossas crianças nem as suas famílias! Criem ferramentas, mecanismos, regras, o que seja, mas não o façam com câmaras de TV apontadas à cara!
É triste, humilhante, decadente e depressivo!

(desculpem o longo desabafo...)

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